Entrevista: Dave Grohl entra em detalhes sobre sua perna quebrada e o futuro do Foo Fighters

A perna quebrada que se dane! Apesar de sua queda do palco na Suécia no mês passado, Dave Grohl e os Foo Fighters já seguiram em frente para um show repleto de estrelas em Washington D.C., comemorando o 20º aniversário no Quatro de Julho, e continuaram em turnê logo em seguida. Em um dia de folga, durante a turnê no Canadá e com uma voz seriamente desgastada, Grohl conversou com a EW sobre seu trono maluco, porque seu acidente em junho resultou em um dos melhores shows dos Foos e o futuro da banda. (Dica: Eles não vão embora tão cedo.)

Pela sua voz, parece que você já teve dias melhores… 

Estou imitando o Lemmy para dar minhas entrevistas hoje, isso é o que estou fazendo. É o Lemmy do Motorhead.

Você já está de volta à estrada com o Foo Fighters. Como está sendo? 

Os shows que temos feito ultimamente são alguns de nossos shows favoritos que já fizemos, e eu não estou brincando. Falamos sobre isso depois de cada show no camarim: O que parecia algum tipo de retrocesso no tempo se transformou nesta bela bênção disfarçada, onde este trono e essas muletas e estas audiências nos fazem tocar mais alto do que nunca. É uma energia totalmente nova no show. Meu tornozelo está indo muito bem, mas os shows duram três longas horas, então em um dia de folga, minha voz fica assim. Louco! 

Quando você quebrou sua perna na Suécia no mês passado, você ainda conseguiu terminar o show. O quão forte estava a dor? 

Quando aconteceu, eu não senti nada. Eu tentei me levantar e andar, mas meu tornozelo entrou em colapso sob o meu peso. Eu apenas caí de costas no chão, olhei para a minha equipe de turnê e disse: “Está quebrado. Já era.” A banda não sabia o que estava acontecendo, então eles continuaram tocando. Olhei para o meu pé e ele estava pendurado lá, porque foi deslocado e minha perna estava quebrada. Mas ainda não doía. Um por um, os caras da banda pararam de tocar e começaram a ir para a borda do palco ver o que estava rolando. Eu só conseguia rir. Eu não podia acreditar que aquilo tinha acontecido. Foi na segunda música do set, então foi uma bosta.

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O nosso setlist deveria ter 26 [músicas] e estava uma bela noite, haviam 52.000 pessoas lá, então eu peguei um microfone e eu disse a todos que eu estava indo consertar minha perna e voltaria. Eu não sabia se isso significava 20 minutos ou um mês, mas eu queria continuar tocando. Eles me puxaram para o lado do palco e o médico disse, “seu tornozelo está deslocado e eu tenho que o colocar no lugar agora.” Eles colocaram um rolo de gaze na minha boca, eu gritei e o mordi enquanto eles colocavam meu tornozelo de volta no lugar e, em seguida, todo mundo ficou em silêncio por um minuto. Os Foo Fighters estavam no palco tocando uma música do Queen ou algo assim e eu olhei para baixo e disse: “OK, eu posso voltar no palco agora?” Porque não doía. Meu paramédico disse: “Eu tenho que segurar o seu tornozelo no lugar”, e eu disse: “Bem, então você vai para a porra do palco comigo agora.” E ele foi.

Não estava doendo até eu desabar no sofá em meu quarto de hotel, com uma cerveja na mão. Eles me deram alguns analgésicos – e eu realmente nunca tomo pílulas, mas em meia hora eu estava tipo, “Me arranje alguns Oxys agora, cara!” Foi muito doloroso. E então eu pensei que eu poderia simplesmente me levantar e fazer um show uma semana mais tarde após a cirurgia, mas eu literalmente não conseguia sair da cama por cerca de seis ou sete dias. Foi doloroso pra caralho. Eu nunca tinha experimentado nada assim na minha vida. Mas, em seguida, todos os dias foram ficando um pouco melhores, e foi aí que eu comecei a pensar: “OK, eu não vou ser capaz de subir ao palco nesta semana ou na próxima, mas eu não vou cancelar o show do Quatro de Julho, e se tudo correr bem, então nós vamos continuar.” E no show do Quatro de Julho, quando a bandeira caiu e eu estava sentado naquele trono e 50.000 pessoas ficaram de boca aberta, eu pensei, “OK, vamos continuar essa turnê, isso vai funcionar.” 

Você comemorou os 20 anos da banda com um grande show em Washington, D.C., no feriado de Quatro de Julho. Como foi?

Eu sou de lá e cresci vendo os fogos de artifício lá no Mall quando criança. O 20º aniversário do nosso primeiro álbum foi nesse Quatro de Julho, então eu pensei, “Esta é a oportunidade perfeita para tocarmos em um estádio na América”, o que nunca tinha acontecido. A programação foi espelhada na série Sonic Highways. Pensamos que esta seria uma ótima maneira de celebrar a música americana com todos esses heróis americanos como Joan Jett, Buddy Guy, LL Cool J, Trombone Shorty, Heart – e, claro, para celebrar o nosso 20º aniversário também. Foi um sonho se tornando realidade. Depois o promotor Seth Hurwitz e eu olhamos um para o outro e dissemos: “Nós temos que fazer isso todos os anos.”

 Então, Foos no Mall em 2016?

Bem, uma perna quebrada não vai me parar, então… [risos] Todos os anos, Willie Nelson faz o seu piquenique de Quatro de Julho no Texas, e isso se tornou uma tradição. É um lugar onde você pode tomar uma cerveja, fumar um baseado, ouvir música boa. No show do Foo Fighters do Quatro de julho, nós demos às pessoas um lugar para ouvir música boa, ver fogos de artifício e compartilhar tudo isso juntos. Quando eu era jovem, nós pegávamos um cooler, colocávamos sanduíches e algumas cervejas nele, pegávamos uma toalha de piquenique e nos sentávamos na grama do Mall para assistir os Beach Boys ou quem estivesse tocando. Eu olho para o que fizemos como uma versão menor do que eu cresci fazendo no Quatro de Julho, o que é ótimo.

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Como você pretende superar a insanidade que foi aquele show no resto da turnê de verão? 

A espontaneidade da situação em que estamos agora traz um sorriso a todo mundo. A ideia do trono é ridícula, especialmente para uma banda que nunca teve qualquer tipo de produção – normalmente só colocamos os amplificadores no palco, acendemos as luzes e tocamos. Agora temos esse trono que dispara luzes e fumaça e se parece com um OVNI cheio de guitarras presas nele. Quando ele anda pela primeira vez no palco, as pessoas se animam. Eu estou preso a esta cadeira e há um cinto de segurança para que eu não caia dessa coisa, isso é o quão forte eu estou curtindo!

 Você disse à multidão de D.C. que estava “mais chapado que o Bob Marley” quando projetou o trono.

Quatro ou cinco dias após a cirurgia, eu pensei: “Nós vamos fazer o show do Quatro de Julho e eu não posso simplesmente sentar em um banquinho como Paul Simon ou sei lá, eu tenho que fazer algo legal.” Peguei o papel de carta do hotel e fiz um desenho primitivo que tinha setas e descrições, tinha o logotipo do Foo Fighters, e dizia “lasers e o caralho a quatro”. Eu queria que ele levantasse voo, mas o cara da iluminação disse: “Olha cara, você já tem uma perna quebrada. Não vamos voar por aí ainda.”

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Com um ano tão marcante para a banda, você quer continuar?

A banda é mais do que um grupo musical. É uma família e se tornou um estilo de vida pra gente. Nós nos amamos. Quando o Foo Fighters chega ao aeroporto e há quatro vans esperando para nos levar de lá, todos nós entramos em apenas uma van até hoje. É assim que funcionamos. Por 20 anos, nós estivemos em nossa própria gravadora, licenciamos e distribuimos nosso material através de grandes gravadoras, mas somos a gravadora principal e temos nosso estúdio, então também somos o estúdio. Nós apenas fazemos o que queremos fazer, sempre que queremos fazer, mesmo que isso signifique dar uma pausa ou cair na estrada por dois anos. Contanto que possamos fazer o que queremos fazer, vamos fazê-lo até morrer. Eu amo meu trabalho. Quero dizer, porra, eu estou com uma perna quebrada, uma placa e pinos em um osso e eu não posso sequer me levantar, mas eu ainda quero subir no palco e tocar com a minha família. Nós não vamos nos separar em breve, isso seria como seus avós se divorciando. Muito estranho. 

Há algum plano de trazer sua série da HBO, Sonic Highways, de volta para uma segunda temporada?

Nós temos conversado sobre fazer isso de novo. Eu tenho certeza que vamos. Uma das grandes coisas sobre o conceito da série é que nem sempre tem que ser o Foo Fighters e nem sempre tem que ser na América. Você pode trabalhar dentro do conceito, a estrutura da ideia, e alterá-lo o tempo todo. Foi uma experiência incrível e a resposta foi esmagadora. As pessoas estavam tão animadas para aprender sobre a história da música, sobre a história de sua cidade, sobre as histórias desses heróis – Dolly Parton, Buddy Guy, Willie Nelson. Foi um prazer e uma honra facilitar essa ideia para que as pessoas pudessem apreciar a música de um novo ângulo.

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Qual hit do Foo Fighters é o mais significativo pra você?

Poxa, há um monte de músicas. Temos os nossos ‘grampos’, aquelas que fazem a galera pirar. Para mim, tem uma canção do Wasting Light chamada “These Days”, que é uma das canções mais significativas que eu já escrevi. Toda noite que eu a canto eu ainda tenho vontade de chorar. Mas eu poderia dizer a mesma coisa sobre “Times Like These”, sabe? As músicas que eu realmente gosto de tocar mais são as que o público canta comigo, porque é essa conexão que transforma a experiência em mágica. Essa é uma das razões pelas quais nunca tivemos fogos de artifício, pirotecnia e um palco elaborado para o show, porque sempre achamos que o show na verdade é o público. Quando cantamos essas músicas e eles cantam junto, a experiência se torna incrível.

 

Matéria original:Dave Grohl opens up about his broken leg and the Foo Fighters’ future“, por Entertainment Weekly. 17 de julho de 2015.
Tradução: Stephanie Hahne